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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Liberdade quando vem


Ah, essa liberdade que vem Sem qualquer desejo meu Vem sem aviso, sem escola Esqueço que em mim já existiu Ah, essa liberdade que me mata Me aprisiona, me afaga Me tira das mãos o que eu mais poderia desejar Me tira do peito o que eu não aguentaria mais suportar Ah, tu quiseste me mostrar Que liberdade do amor quando vem Leva tudo que faz acreditar

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Terra de Seu Doutor


Ah, pro Seu Doutor pedi escola,
Mas aqui não tem, e ele não dá não.
Pro Seu Doutor pedi sapato
Que é pra não andar com o pé no chão
Pro seu Doutor pedi uma terra
Que é pra começar a plantação
Pro Seu Doutor pedi remédio
Que é para acabar com o mal do pulmão
Pro seu Doutor pedi fazenda
Que é pra vestir o meu menino
Mas em Terra de Seu Doutor
Chance pra nós não sai do ninho
Pro Seu Doutor pedi esmola?
Quero saber de nada disso não
Porque pra tudo nessa vida dei meu sangue
Alma e coração
Mas o que falta para esse povo
É o que o Seu Doutor não dá
Mais oportunidade que é pra vida melhorar
Se Seu Doutor pensa que engraxar sapato é a solução
Nenhum problema vejo nisso não
Mas só não ajoelho pra me botar o pé em cima
E me chamar de pobretão
Porque o que saiu do meu berço
Não foi ouro, chave nem terço.
Mas o que sai do meu peito é aquilo
Que ninguém pode tirar
A dignidade que eu tenho
E que você, Seu Doutor, nem tem pra dar.

Bianca Monsores

sábado, 11 de agosto de 2012


Vem, lava minha alma encharcada de pecados.
Livra a minha boca do sal, a terra dos rachados.
Dá vida àquilo que há muito se esqueceu
Àquilo que eu nem lembrava, era meu.

Vem, tira da minha pele o velho fardo.
Leva tudo que não serve, leva de vez o mau-olhado
Do tempo só tu entendes e tudo já viu
Torna tudo sereno
Reflete no céu o seu azul, azul anil.

Tira do nosso solo a miséria
Liberta teu povo do mal
Santifica aquilo que é sacro
Porque tu és tudo que há de puro nesse mundo,
Tu, doce água doce.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011



Honre a tua bandeira.
Defenda a justiça de firme punho,
Mas não fira a alvidez de teu nome.
Confie no que tens de mais brando
Para assim cumprires tua divina missão.
Não negue doar a luz a quem lhe roga,
Nem proferir a verdade em leve tom.
Ostente-se no que és em alma, porque és de paz
Honre a tua bandeira porque ela é branca,
Branca e nada mais.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Palavras




E me fugiram as palavras

Sem ruído, silenciosas

Para que não pudesse percebê-las ao corpo de sua ausência


Deixaram-me caladas, em miúdos

Como a sombra de um retrato apagado pelas linhas do tempo

Como um velho verso decorado levado pelo vento


Foram, sim, abafadas, sem aviso

Porém deixaram-me as marcas

De tudo que um dia foi desejo

Mas que nunca foi dito


Bianca Monsores

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sozinha no tempo


Folheio páginas já manchadas, marcadas pelo tempo. Tempo este infiel, que se arrasta pelos ponteiros do relógio.

A tarde, escondida pelas nuvens, se mostra depressiva, e eu apenas espero pelo fim do velho livro me sentindo acolhida pelo drama já repetido inúmeras vezes por aquelas folhas vazias.

Perco-me no íntimo por horas, e me recolho a cada rangido dos móveis acentuado pelo eco das paredes frias; tudo que me cerca, me avalia, me devora, sem uma palavra se quer. Somente na luz, já um pouco fraca, habita um único fio de esperança...

E, de repente, num estalo, a porta se anuncia. Cheia de sombras e brisas, porém. E acompanhada por um exacerbado silêncio, resta-me apenas girar as chaves e me trancar no vazio.


Bianca Monsores

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Para 2011



Gaste menos, menos luz, menos água, menos recursos; seja sustentável.

Perca menos tempo, não espere tanto; encontre sua felicidade.

Desperdice menos alimento, reclame menos; seja grato.

Julgue menos, critique menos; seja compreensivo.

Ajude, doe sua atenção (não custa nada!); pratique a caridade.

Preocupe-se menos, desgaste-se menos; não fuja da diversão.

Importe-se menos com marcas e beleza física; seja seguro de si mesmo.

Se preocupe menos com posses e dinheiro; seja simples.

Avalie mais os pequenos e importantes detalhes; seja minimalista.

Faça menos planos, deseje menos; torne as coisas reais.

Recue menos, aceite menos; bata com orgulho no peito e encare a vida.

Use menos maquiagem, menos botox, entrelace, silicone; seja natural.

Tenha menos medo de envelhecer, isso é uma conquista!

Não busque o centro das atenções, seja discreto e elegante.

Coma menos, beba menos, durma menos; cuide da sua saúde e aproveite!

Seja menos egoísta, preocupe-se menos com você mesmo; experimente a maternidade.

Use menos telefone, e-mail, msn; fale olhando nos olhos.

Não seja apenas você; coloque-se no lugar do outro.

Seja carinhoso, sensível e compreensivo; valorize o seu amor.

Cultue menos o seu orgulho. Não hesite, pedir perdão é para os fortes de espírito e saber perdoar é uma dádiva!

Aceite-se, permita-se e finalmente você terá a certeza de que viveu intensamente...


Bianca Monsores

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Progresso?



A tecnologia atual tomou conta da casa das pessoas. Máquinas fotográficas digitais, Ipods, computadores ultra-modernos, sistemas inacreditáveis e o medo... medo que o próprio homem possa se tornar obsoleto graças às suas próprias criações. Com toda essa tecnologia, o ser humano tornou-se, mais do que nunca, um consumidor, um materialista. É fato que sempre foi, mas imagine agora, com toda a diversidade e opções existentes, as pessoas passam a nem se importar tanto com a utilidade que essas mercadorias têm, o que elas querem é apenas consumí-las ou apenas querem o prazer de assistir a Musa do Brasileirão em uma bela tela de plasma acompanhada da alta definição e conforto da TV a cabo.

Os fabricantes, é óbvio, também consomem, e consomem o que temos de mais importante. Passam por cima de tudo que signifique 'atraso' em seus negócios, destroem um vasto verde por alguns bilhões de verdinhas, poluem o ar com gases nocivos e nossas águas com resíduos industriais, e depois de tudo isso, por que não aderir a moda do momento e falar sobre preservação ambiental e aquecimento global? Este último então, é um belo prato para servir muita discussão. Depois de mudanças consideráveis no comportamento da natureza, parece que a fada da consciência pesada nos andou fazendo uma visitinha. O que a mídia diz é que precisamos ser cautelosos e tentar reverter esse grande problema que é o aquecimento global. Claro, ainda dá tempo! Ainda mais com a meias providências tomadas pelos órgãos públicos e com a ignorância que, vamos combinar, o mundo está bem servido.

Mas não podemos nos esquecer dele. Sim, O protocolo de Kyoto! Alguns países que antes se recusavam assiná-lo finalmente se renderam. Os países desenvolvidos têm como meta reduzir uma certa porcentagem de gases poluentes ao ano, mas os em desenvolvimento, podem poluir a vontade, não é não, China? Tudo pelo progresso!


Bianca Monsores

domingo, 27 de junho de 2010

Já é tarde


Durma que já é tarde
Descansa teu corpo cansado
No leito sereno
Repousa tua alma marcada
Nos braços sedentos do silêncio, calado
Esquece o ermo que lhe marca a chegada
Apaga a memória de anseios, fracassos.
Prepara-te, aguarda de belo traje
Que a morte já é cantada
Vamos, meu amigo, não se acovarde.
Durma agora,
Durma que já é tarde

Bianca Monsores

quinta-feira, 11 de março de 2010

O louco


Já era tarde da noite quando Otávio decidiu que queria viver mais, viver por si mesmo.
Pulou da cama e, sentado próximo a janela, observava o céu. Conforme a noite era trocada pelo dia, ele percebia alguns pássaros que começavam a sair de seus ninhos em busca da conquista por novos horizontes. Foi alí que ele teve certeza: queria ser como aqueles graciosos animais. Mas como isso seria possível?

Um dia, olhando uma pequena menina que carregava balões, Otávio teve a grande ideia. Seus balões seriam os pássaros, que o levariam a descobrir novas aventuras além daquele lugar onde o habitual já se tornava confortável a todos.

No quintal de sua casa, espalhou pequenos grãos de milho e esperou pelos pássaros junto a longos fios de barbante. Quando eles chegaram, amarrou nas patas dos animais os fios e logo em seguida, amarrou-os em seu próprio braço. As aves levarantaram voo e o homem subiu pelos ares preso pelos punhos. As pessoas ao redor não podiam acreditar no que viam e chamavam-no de louco, até que um dos seus vizinhos gritou:
- O que pretende com isso?!
E Otávio respondeu das alturas:
- Liberdade!
E lá se foi ele, deixando para trás as grades do comodismo,aquelas que não nos permitem ver além do que nos é previsível.

Bianca Monsores